quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010


Pois toda essa beleza que te veste
vem de meu coração, que é teu espelho
o meu bem é bem melhor que tudo posto

quando você pinta tinta nessa tela cinza
quando você passa doce dessa fruta passa
quando você entra mãe-benta amor aos pedaços
quando você chega nega fulô boneca de piche
flor de azeviche

você me faz parecer menos só
menos sozinho
você me faz parecer menos pó
menos pozinho

quando você fala bala no meu velho oeste
quando você dança lança flecha estilingue
quando você olha molha meu olho que não crê
quando você pousa mariposa morna lisa
o sangue encharca a camisa

você me faz parecer menos só
menos sozinho
você me faz parecer menos pó
menos pozinho

quando você diz o que ninguém diz
quando você quer o que ninguém quis
quando você ousa lousa pra que eu possa ser giz
quando você arde alardeia sua teia cheia de ardis
quando você faz a minha carne triste quase feliz

(Skap- Zeca Baleiro)



"Ficam em mim,

um cheiro, um gosto,


uma despedida.

F
icam pedacos que nao se encaixam, mais.

Ficam certezas que nao me encaixam mais.

Fica o gosto ,o cheiro,
fica o desgosto.

D
e nao querer entender, de fechar os olhos.

Q
uero ir e estou presa, quero voltar e o caminho se perdeu.

Sei que vai passar,
um dia atrás do outro ,um dia com o outro.

V
ai passar....

(Mônica Rennée)



Nem com você nem sem você
O amor desse qualquer coisa que eu não saiba
Ou o que quer que seja me deixou completamente nua
Um perfume, um veneno
Não se pode querer
Não se pode trazer de volta
Seja o que for o que me penetra
E depois me solta
Não pode ser a desculpa
O amor me causou revolta

O amor deve ser
A pergunta que não se faz
Uma dúvida que jamais
É saciada
Eu não entendi nada ah, aaahhhhh
Nada por mim...
Nada sem mim...

É você me deixou
Tão confusa e transtornada
Que hoje a coisa
Mais firme que tenho (creio)
É que eu te odeio
E é esse o ódio que
Eu mais choro
Eu te adoro, eu te adoro...

(Fátima Guedes- Eu te odeio)



"Meus companheiros amados
não vos espero nem chamo:
porque vou para outros lados.
Mas é certo que vos amo.

Nem sempre os que estão mais perto
fazem melhor companhia.
Mesmo com sol encoberto,
todos sabem quando é dia.

Pelo vosso campo imenso,
vou cortando meus atalhos.
Por vosso amor é que penso e me dou tantos trabalhos.

Não condeneis, por enquanto,
minha rebelde maneira.
Para libertar-me tanto,
fico vossa prisioneira.

Por mais longe que pareça,
ides na minha lembrança,
ides na minha cabeça,
valeis a minha Esperança."

(Cecilia Meireles)

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010


Preciso me encontrar

em algum lugar,

eu preciso me achar.

O que acontece com essas nuvens?

Quando elas irao me deixar,

Abrir meu olhar.

Preciso achar o caminho.

Preciso achar a reta, minha meta.

Preciso me achar,

Reeencontrar...

(Mônica)


A
DOR QUE DÓI MAIS


Trancar o dedo numa porta dói.
Bater com o queixo no chão dói.
Torcer o tornozelo dói.
Um tapa, um soco, um pontapé, dóem.
Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.
Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas. Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter. Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando. Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche. Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.
(Martha Medeiros)